O BRASIL DE
1717
Quem conhece a região de Aparecida dos
dias atuais e sabe como é o Brasil neste começo do século XXI pode ter
dificuldade em imaginar como se viva por aqui em 1717. No lugar da principal
estrada do país – A Rodovia Presidente Dutra -, existia a Estrada Real, que não
passava de um caminho de cavalos. Aliás, o percurso que fez naquele mesmo ano o
então governador da capitania de São Paulo e das Minas de Ouro foi outro. A
viagem, que era penosa, começou no Rio de Janeiro, continuou pelo litoral por
vários dias até a chegada a Santos, de onde se subia a serra rumo a São Paulo.
De lá, o governador ia para Minas, atrás do ouro, mas precisava passar pela
Vila de Guaratinguetá. Não podia imaginar o então Conde de Assumar que algo
completamente novo ia acontecer por causa da pescaria que foi marcada para
fornecer peixes para o banquete que lhe seria servido.
Para se ter melhor ideia do Brasil daquele tempo, é preciso saber da crise do ouro, entre 1710 e 1740, que fez o rei de Portugal colocar homens duros, como Dom Pedro de Almeida e Portugal, numa região rica da colônia. E isso, óbvio, com o objetivo de aumentar a arrecadação. Pouco interessava a Som João V e ao Conde de Assumar a pobreza generalizada dos moradores da então Vila de Guaratinguetá.
Como entreposto para abastecer viajantes e as tropas que por aí passavam, a região só contava porque era ligação entre o ouro e o mar. Terra de exploração. É o melhor modo de caracterizar o Brasil daquela época. Explorados eram os seus habitantes que podiam ser açoitados ou até enforcados, como foram uns tantos quando o governador passou aqui, em outubro de 1717. Explorados eram os escravos que serviam aos donos das terras. A violência era a forma natural de forçar à obediência e de podar revoltas. Elas plantavam a odeia de independência.
Entendida assim aquela época, o
encontro da imagem de Nossa Senhora ganha um significado amplo. A santa não só
veio responder à religiosidade dos abandonados, como fez crescer a esperança de
tempos melhores dos quais a liberdade e a capacidade de sobrevivência digna
seriam conquistas necessárias.
A libertação de todo tipo de
escravidão faz parte do ato redentor do Crucificado. Não podia deixar de ser,
também essa, a missão de sua Mãe. Ela participa desse ato. Assim como cada um
de nós.
Fonte: Revista de Aparecida - Dezembro 2014 - Pe. Cesar Moreira C.Ss.R.